Eder Santos é um pintor da luz. Desde a década de 1980, ele usa a fria e independente tecnologia do vídeo e, no clima quente de Minas Gerais, aquece imagens eletrônicas recolhidas de seu cotidiano. Sem se interessar pela mimética – um aspecto importante da mídia que escolheu –, ele explora a poesia, tecendo de modo engenhoso camadas de imagens e sons marcantes. Ao longo dos anos, Eder criou um estilo despretensioso, que evoluiu não só em oposição ao racionalismo e à formalidade do conceitualismo e do minimalismo de gerações anteriores, mas também em consonância com a abstração lírica dos anos 1950 no Brasil.
Santos distorce habilmente as cores do vídeo, modificando-as como se fosse um aquarelista. Tendo começado na “Idade das Trevas”, antes dos sites e do Skype, trabalha tranquilamente em isolamento, longe das metrópoles do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Mesclando forte senso de independência, com um brilho nos olhos e um sentimento de ceticismo, ele explora seu vocabulário na medida em que lida com suas ferramentas em constante evolução. Apesar de Santos ter-se tornado um viajante permanente, movendo- se pelo globo para festivais e exibições, sua obra remete sempre a seu idílico lar em Belo Horizonte. Lá ele agilmente trabalha de seu ateliê, ligado digitalmente a colaboradores como o artista sonoro Stephen vitiello, em Richmond, na virginia (EUA). Santos continua um artista brasileiro, consciente da relação socioeconômica entre as mídias tecnológicase a representação cultural.
“Eu nunca perdi de vista o fato de que estou usando uma tecnologia bastante estranha à minha cidade e ao país – existe uma lacuna na relação entre o social e o tecnológico. Como consequência, procuro sempre usar nossos próprios elementos culturais”.
A atual onda de dispositivos miniaturizados de comunicação beneficia mídia e som, os quais convivem tradicionalmente com barreiras linguísticas e territoriais. num futuro próximo, i-pods poderão até mesmo se tornar projetores multiuso, fornecendo “cinema” para cada dispositivo de exibição, junto com música e os vídeos digitais de Eder Santos. Hoje, o ritmo calmo praticado por Santos adapta-se ao ritmo acelerado de uma era global repleta de transtornos de déficit de atenção. O multitarefa frenético e a mania do YouTube indicam que ele está à frente do nosso tempo.
Bárbara London
Curadora de videoarte do MoMA, Nova York, EUA