Onde a Coruja Dorme por Pablo Gobira

Froiid
Novembro 29, 2019

A exposição "Onde a coruja dorme", de Froiid, traz o futebol e as suas regras como mote. Através de figuras geométricas riscadas em madeira e pintadas sob o pretexto de representar campos de futebol, a exposição apresenta muito mais do que uma realidade disforme, contrária às leis de um jogo conhecido. Provoca-se a recuperação do futebol para o cotidiano, através da sua representação no “peteleco”, ascendendo o jogar a um plano em que a decisão de qual regra seguir é negociada entre os que jogam.


A representação do futebol transformada em matéria-prima revela novas geometrias, novas cores e novas regras para um jogo popular. Froiid transmuta a dimensão estética presente em um jogo rememorando as diversas experiências no campo da arte, desde as vanguardas, no século XX. Dialoga concretamente com futuristas, dadaístas, surrealistas, o CoBrA e outros grupos e movimentos. Rememora a relação entre o jogo e o ser humano que traz no jogar um modo de passar o tempo, de conhecer o espaço, de sobrepor realidades, de viver e construir a vida em comunidade.

O artista traz, no processo de fabricação dos campos, novos campos com regras variadas. Essas regras se sobrepõem umas às outras e suspendem a hegemonia do futebol como esporte cuja maior expressão está fora das "das quatro linhas". A recuperação do futebol para o cotidiano começa quando se opta pelo jogar o jogo sem um interventor externo a ele. A exposição apresenta um modo de fazer isso criando várias regras e, consequentemente, seu modo de jogar, seus espaços e tempos próprios. A partir das peças apresentadas nada impede ao visitante que crie em um espaço de sua escolha uma nova aplicação para as regras presentes em cada trabalho.

Nesta exposição, Froiid dá uma pancada leve com um dos dedos da mão. Um peteleco possível que é contrário ao domínio e a hegemonia sobre um jogo. Ele o faz multiplicando as regras do jogar. Desse modo, resgata o jogo nas formas aqui em exibição e não produz novos discursos hegemônicos. Froiid apresenta o caráter mágico, livre e mutável que todo jogo traz em si e, assim, rememora a sua experimentação no cotidiano, quando estão a serviço de quem os joga, resultando em uma construção que pode ser verdadeiramente coletiva.

Pablo Gobira
Curador