Qual a diferença entre um ser humano e um bicho? A racionalidade, que nos distingue, nos torna menos animal? Que certeza temos de que nossa humana percepção do mundo é superior à de um rato, um gato, um cão, um chimpanzé ou um pombo?
Essas indagações são centrais na obra de Iago Gouvêa. O debate sobre os limites do ser humano e sua relação com outras criaturas tem se intensificado nas últimas décadas nas áreas mais distintas da ciência e da filosofia, mas remonta à Antiguidade ou Montaigne (1533-1592).
A curiosidade e inquietude de Iago Gouvêa são perceptíveis ao explorar um campo controverso e apresentar soluções formais inusitadas, o que lhe confere uma singularidade na produção contemporânea.
Depois do desenho, sua pesquisa voltou-se para o campo escultórico, explorando diferentes materiais. Embora suas obras tragam abordagens distintas sobre a animalidade, a problematização da exploração de animais pelo homem percorre todos os seus trabalhos.
Na exposição Mais outro que qualquer outro, Iago Gouvêa mostra três conjuntos de trabalhos: A série In vitro, instalada em um ambiente asséptico de laboratório. Aqui, a utilização de ratos como cobaias de pesquisas científicas é levada ao extremo. São esculturas em cerâmica, nas quais deformidades provocam estranhamento para despertar uma reflexão, não sem uma dose de ironia, sobre os limites da ciência na relação com os animais.
A escultura de um macaco, com o cérebro aberto e preso a uma aparelhagem dourada subverte a tradição europeia de animais de porcelana, em que tais objetos conferiam status de nobreza e bom gosto, para fazer uma crítica ácida a valores a sociedade de consumo e cientificista.
O segundo ambiente expositivo é dedicado aos animais que habitam as cidades evidenciando a aspereza da vida de aves e mamíferos ao ambiente urbano. A concepção escultórica, sobretudo os materiais empregados – cimento, vigas de aço, ferrugem e cacos de vidro – se apropriam das falhas construtivas e expõem as cicatrizes citadinas.
Materiais de construção urbana (cimento, ferrugem e piche) também são usados nas pinturas, que retomam o tema científico e industrial da reprodução em massa originada a partir da Máquina de fazer pombos e uma referência ao poema Alta cirurgia, de Carlos Drummond de Andrade, sobre um cão com dois corações. A árvore, repleta de mangueiras de látex, criam um contraste entre a natureza e o industrial, fruto da cultura humana, reforçado pelo caráter de armadilhas e ameaça aos pássaros.
Para encerrar a exposição, um painel de esculturas de cerâmica composto de 30 peças de parede. São animais antropomorfizados, que remetem às coleções de registros de cientistas realizadas em expedições pelo Brasil. Compõem, paradoxalmente, uma arqueologia futurística, na qual se fundem homens e animais e sugerem um outro tipo de relação entre ambos e, talvez, o fim dessa dicotomia que nos separa.
Qual a diferença entre um ser humano e um bicho? A racionalidade, que nos distingue, nos torna menos animal? Que certeza temos de que nossa humana percepção do mundo é superior à de um rato, um gato, um cão, um chimpanzé ou um pombo?
Essas indagações são centrais na obra de Iago Gouvêa. O debate sobre os limites do ser humano e sua relação com outras criaturas tem se intensificado nas últimas décadas nas áreas mais distintas da ciência e da filosofia, mas remonta à Antiguidade ou Montaigne (1533-1592).
A curiosidade e inquietude de Iago Gouvêa são perceptíveis ao explorar um campo controverso e apresentar soluções formais inusitadas, o que lhe confere uma singularidade na produção contemporânea.
Depois do desenho, sua pesquisa voltou-se para o campo escultórico, explorando diferentes materiais. Embora suas obras tragam abordagens distintas sobre a animalidade, a problematização da exploração de animais pelo homem percorre todos os seus trabalhos.
Na exposição Mais outro do que qualquer outro, Iago Gouvêa mostra três conjuntos de trabalhos: A série In vitro, instalada em um ambiente asséptico de laboratório. Aqui, a utilização de ratos como cobaias de pesquisas científicas é levada ao extremo. São esculturas em cerâmica, nas quais deformidades provocam estranhamento para despertar uma reflexão, não sem uma dose de ironia, sobre os limites da ciência na relação com os animais.
A escultura de um macaco, com o cérebro aberto e preso a uma aparelhagem dourada subverte a tradição europeia de animais de porcelana, em que tais objetos conferiam status de nobreza e bom gosto, para fazer uma crítica ácida a valores a sociedade de consumo e cientificista.
O segundo ambiente expositivo é dedicado aos animais que habitam as cidades evidenciando a aspereza da vida de aves e mamíferos ao ambiente urbano. A concepção escultórica, sobretudo os materiais empregados – cimento, vigas de aço, ferrugem e cacos de vidro – se apropriam das falhas construtivas e expõem as cicatrizes citadinas.
Materiais de construção urbana (cimento, ferrugem e piche) também são usados nas pinturas, que retomam o tema científico e industrial da reprodução em massa originada a partir da Máquina de fazer pombos e uma referência ao poema Alta cirurgia, de Carlos Drummond de Andrade, sobre um cão com dois corações. A árvore, repleta de mangueiras de látex, criam um contraste entre a natureza e o industrial, fruto da cultura humana, reforçado pelo caráter de armadilhas e ameaça aos pássaros.
Para encerrar a exposição, um painel de esculturas de cerâmica composto de 30 peças de parede. São animais antropomorfizados, que remetem às coleções de registros de cientistas realizadas em expedições pelo Brasil. Compõem, paradoxalmente, uma arqueologia futurística, na qual se fundem homens e animais e sugerem um outro tipo de relação entre ambos e, talvez, o fim dessa dicotomia que nos separa.
Pablo Pires, 2023