Rapunzel por Taisa Palhares

Flávia Bertinato
Maio 1, 2016

No conto popular compilado pelos irmãos Grimm, Rapunzel é a menina cujo destino é definido pelo poder mágico de seus longos cabelos loiros. Eles são ao mesmo tempo a causa de sua maldição e o acesso a sua liberdade. No fundo, as tranças se tornam as protagonistas da história, frequentemente representadas como se tivessem vida própria em ilustrações antigas. E como em todo conto de fadas, a beleza está associada à magia: ambas são sedutoras e encantatórias, mas também levam à cegueira (literal nesse caso) ou a algum ato violento, antes que tudo finalmente termine bem.
Na instalação de Flávia Bertinato intitulada Rapunzel, sete carretéis de tamanhos diferentes enrolam longas e finas tranças de sisal, traspassadas por tesouras cirúrgicas douradas. O momento evocado é aquele posterior à ação violenta que acabou momentaneamente com o encanto da personagem principal. Como em outros trabalhos da artista, Rapunzel apresenta o tempo em suspensão, o corte de uma sequência narrativa que se revela como instante de alta tensão. O emaranhado de tranças pode se regenerar e tomar o espaço em trama infinita, bem como permanecer imóvel, sem vida.
Bertinato acessa o imaginário popular para nos colocar diante do senso comum em relação às ideias de amor, sedução e feminilidade, naturalmente com ironia e ambiguidade. Pois, se por um lado a atração pela beleza é reiterada, por outro, o elemento disruptivo que é seu duplo também está presente. Em certo sentido, isso corresponde à própria relação que estabelecemos com a arte. Seus objetos são feitos para seduzir e nos seduzem, mas essa atração não é apenas engano. Ela também pode ser a passagem para o avesso, o outro lado.


Taisa Palhares