Desde que começou a expor pinturas, esculturas e instalações, no final dos anos 1990, Tatiana Blass problematiza a noção de espetáculo. Casos paradigmaticos são suas pinturas de palcos quase vazios e suas instalaçoes recentes em que esculturas moldadas em parafina perdem contornos e coesão sob efeito da luz forte de holofotes.
Metade da fala no chão - Piano surdo faz parte de uma série de intervenções da artista sobre instrumentos musicais. Na Bienal, um piano de cauda recebe, enquanto tocado, um derramamento de cera líquida em suas cordas. Um vídeo registra a rápida passagem de estado físico daquela matéria, do desafinar das notas ao emudecimento completo. O instrumento petrificado na forma de escultura ratifica seu próprio e irreversivel silêncio. Como um ciclo temporal que anuncia todas as suas etapas, a instalação mimetiza os tombamentos através dos quais a vida se torna monumento. Algo que, em oposição à vida, perde o movimento: a eco de som, a voz, as errâncias e possibilidades de quem os emite. O piano é a metáfora da promessa infinita de música. Após a apropriação de Blass, já não mais.