Exposição Institucional: Centro Cultural Minas

A qualquer fagulha - José Bento

“A qualquer fagulha” é o nome da exposição de José Bento, nascido na Bahia radicado em Belo Horizonte desde os anos 1960, que estará na Galeria de Arte do Centro Cultural Unimed-BH Minas. Sob curadoria de Rafael Perpétuo e co-curadoria Clarice Steinmüller, serão exibidas instalações e obras de José Bento que levarão o público a refletir sobre questões ambientais e sociais. 

 

Pode-se dizer que José Bento é um dos grandes e últimos escultores do país. “Digo isso porque o artista trabalha da mesma forma que Donatello (escultor renascentista italiano) trabalhava, como Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho) fazia: desbastando a madeira, lixando, polindo – claro que hoje há equipamentos que ajudam nisso, mas o formão é ainda a principal ferramenta.”, observa o curador Rafael Perpétuo.

 

A exposição explora um viés pouco explorado da obra de José Bento. “Geralmente quando se fala da obra de José Bento, menciona-se a linguagem da escultura, a genealogia mineira do uso da madeira na arte, a mimética de objetos de outros materiais e, principalmente, a questão ambiental – tanto o fato de ele não utilizar árvores deliberadamente cortadas quanto a preservação da natureza. Nós pensamos nos elementos que estão no limiar das obras: o fogo e o ar, ou seja, como essas obras estão prontas para incinerar, tanto conceitualmente como fisicamente”, conta Rafael.

 

O fogo está presente de forma muito intensa na exposição. “O fascínio não está exatamente no fogo, mas na ideia do que o fogo pode causar! É tudo aquilo que você pensa quando vê um combustível e um comburente próximos: a iminência!”, revela o curador. Tal observação, de acordo com Rafael Perpétuo, aponta para o fazer artístico. “E isso a gente pode utilizar como conceito para falar de arte: ser artista é correr o risco, é acreditar no que está fazendo, para além de um pensamento imediatista. Então o fogo significa isso, o risco iminente”, afirma.

 

Na Galeria, estão instalações que dialogam com a ideia iminente da combustão, da transformação em cinza, da efemeridade. “Na exposição, selecionamos obras que lidam com isso, seja a instalação “Ar” com seus cilindros de oxigênio (combustível), seja “Do pó ao pó” que contém fósforos que não devem, mas podem pegar fogo. Além dessas, acrescentamos “Mona”, que figura como um vigilante”, conta Rafael. O curador explica que não se trata de uma exaltação ao fogo, mas ao que sua simbologia revela. “Nos importa nessa exposição o fogo como elemento que move as coisas de seus lugares. Estar com o fogo na mão é estar atento”, afirma.

Outubro 23, 2023