"Aeroporto" é uma mostra composta por 23 fotografias e mais uma série de 16 em que aeromoças são fotografadas sem nenhum glamour, em retratos que lembram os 3x4. "Queria fazer algo hiperrealista, sem observações analíticas", explica Jaguaribe. "Acaba por ser também um perfil da mulher no Brasil: japonesa, negra, italiana, espanhola, uma mistura de tudo. Além disso, há uma série de códigos nas roupas, nos penteados, nos adereços. É um personagem que elas criam", diz.
Contrapondo-se à exatidão do registro das aeromoças, as outras 23 fotos passeiam por texturas e imagens que nascem de um olhar atento a um lugar que representa "trânsito", "mas onde as pessoas estão sempre esperando", completa Jaguaribe.
Nascem relevos de um contêiner envelhecido, humor de arranjos de flores à beira do kitsch e do exagero nas cores das poltronas; a penumbra aparece numa imagem da esteira das malas ("é quase uma daquelas minas de ouro antigas", lembra a artista) e as faixas que demarcam a pista, ocreadas, podem se desligar do cotidiano e compor algo novo -todos vistos a partir de planos sobrepostos.
"Encaro os aeroportos mais como não-lugares", explica Jaguaribe, buscando Marc Augé. "Representam uma espécie de limbo, onde se misturam elementos dos anos 50 e coisas meio futuristas, em caminhos compridos pelos quais você é conduzido. É a mistura de sensações que me interessa", diz. Uma pequena sala dedica suas paredes à projeção de um vídeo de turbinas e da esteira das malas. Jaguaribe afirma que o movimento tinha de ser traduzido de alguma maneira, e o melhor modo encontrado foi o próprio movimento.
As fotografias de Claudia Jaguaribe passam por vários aspectos de uma "vida aeroportuária" que poderiam render, cada um deles, uma nova exposição com apenas um tema -aeromoças, passantes, turbinas, malas, abstrações a partir das texturas. "Tenho mais interesse no conjunto do que em me prender a um só aspecto. E também não vou virar especialista em aeroporto", brinca.
Trecho retirado da matéria Aeromoças aterrissam no Tomie Ohtake por Alexandra Moraes para Folha de São Paulo em 19 de novembro de 2002.