Em colaboração com a natureza, exposição individual de Pedro David tem curadoria de Esther Mourão no Museu de Artes e Ofícios em Belo Horizonte.
Em sua nova exposição individual, o artista visual, fotógrafo e aprendiz, Pedro David, nos oferece um recorte de sua produção autoral desde 2012. Em três salas, cerca de 70 fotos traçam um panorama dos quase 25 anos de carreira de Pedro. São trabalhos em diversos formatos e técnicas de fotografia, vídeo, gravura e escultura, que têm em comum o olhar profundamente interessado no meio ambiente, mais precisamente no bioma Cerrado.
As fotografias da premiada série Madeira de Lei, mostradas em conjunto com seu desdobramento direto, as esculturas em bronze da série Ossos, marcam o início de seu engajamento na defesa do Cerrado. Trabalhos mais recentes, realizados após sua mudança para a região da Serra do Cipó, em 2020, nos mostram a diversidade de linguagens e formas de expressão que o artista opera em seu cotidiano. Imerso em ambiente natural, bem perto de suas belezas, mas também das ameaças que o meio sofre constantemente, a objetividade própria da fotografia dá lugar a uma interpretação poética sobre a complexidade da natureza e de seus elementos essenciais. Uma busca por conecxão e envolvimento, que tem a arte como, meio e modo.
Estão presentes nos trabalhos recentes de David: os líquens que atestam a qualidade do ar na região; as nascentes que descem a serra a partir das primeiras chuvas de cada ano; o movimento frenético do rio cheio, fervendo sua espuma; a água cristalina, ainda limpa, mas nem tanto, (ou até quando?); as folhas secas que caem aos seus pés a cada outono e são gravadas na mais ancestral das técnicas fotográficas, o fotograma – impressão direta de objetos em contato com o papel fotográfico -, que aqui ganha versões, em chapas de Raio X, uma antiga obseção, até chegar ao quase obsoleto scanner – uma outra câmara obscura.
A gravura aparece em experimentos recentes do artista com cogumelos da espécie Psilocybe Cubensis. Um procedimento corriqueiro para os micologistas para o carimbo de esporos, usado para a reprodução de fungos, apresenta-se como oportunidade sui generis para a obtenção de uma forma orgânica, própria das mirações shamânicas que o próprio cogumelo proporciona. A técnica da fotografia digital o reproduz, amplia e imprime. Cores básicas insistem, e nos exemplos mais novos, tomam seus lugares, randomicamente a nos lembrar as serigrafias pop do icônico ídolo Andy Wahrol. Para nos lembrar que as mais amplas conexões são possíveis.