A proposta de curadoria coletiva reúne trabalhos de Isaura Pena, Pedro Motta, Francisco Magalhães, Renato Madureira, Júnia Penna, Ricardo Homen, e Rodrigo Borges.
Depois de passar em 2006 pelo Museu Murillo La Greca (Recife, PE), pela Galeria Genesco Murta e pelo Palácio das Artes (Belo horizonte, MG), e em 2009 pelo Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador, BA), a mostra Geometria Impura chega ao Rio de Janeiro ocupando os três andares do Centro de Arte Hélio Oiticica apresentando a produção recente desses sete artistas plásticos, todos naturais de Minas Gerais, com fotografias, esculturas, pinturas, desenhos e instalações.
“A geometria, segundo uma de suas definições, é a parte da matemática cujo objeto é o estudo do espaço e das figuras que podem ocupá-lo. Talvez essa seja uma das chaves para entrarmos na múltipla rede de sentidos que os trabalhos da exposição Geometria Impura nos colocam”, aponta Eduardo de Jesus, integrante da diretoria da Associação Cultural Videobrasil e professor da faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas l, em texto escrito quando a exposição esteve no MAM da Bahia.
Geometria Impura reúne obras que revelam, por diferenças às vezes mínimas os limites entre a obra de arte, o mundo da arte e a não-arte, criando um estado de tensões e alterações, pela natureza dos trabalhos, que mantém o espaço e a superfície em um nível de suspensão próprio à natureza da arte deste início de século. Os artistas desenvolvem pesquisas plásticas que, apesar da diversidade de meios e interesses, apontam alguns procedimentos em comum. Estes procedimentos revelam uma aproximação poética entre as obras, presente na espacialidade, na noção de vazio e no sentido construtivo.
“Os trabalhos de Francisco Magalhães, Isaura Pena, Júnia Penna, Pedro Motta, Renato Madureira, Ricardo Homen e Rodrigo Borges parecem nos mostrar um esforço de alargar as fronteiras dos modos de construção. O que estrutura as obras são falhas, ausências e intervalos, que ao contrário de impedirem a fruição acabam por evidenciar as qualidades e potências das obras”, completa Eduardo de Jesus.
Francisco, Júnia e Pedro trabalham no limite, nesse limite de espessura tão alargada, quase como um planalto, sobre a qual se situa a arte contemporânea, que não estabelece critérios sobre que aparência deve ter. Para Júnia e Francisco os limites entre os diversos campos de trabalho nas obras e entre estas e o espaço expositivo revelam-se esgarçados. Pedro volta seu olhar para a amplitude da paisagem, reconfigura o lugar, instaurando outras construções e símbolos possíveis. As proposições desses três artistas, claramente analíticas apresentam-se de uma maneira em um momento, reconfigurando-se de outra à frente, em um processo e movente inconcluso. Renato e Rodrigo discutem questões da tridimensionalidade com obras que evidenciam o desenho como possibilidade de matriz de um projeto para o espaço, apondo relações entre os materiais e as possibilidades de tensão sobre eles. Sobre a matéria escolhida, estendem-se a permanência e os vestígios da ação do artista somada à superfície visível. Isaura e Ricardo trabalham o limite como assunto da superfície. Trabalham ora por meio de um limite permeável feito por meio de grades e frestas, ora por meio de um limite opaco de planos chapados. Em ambas as situações a superfície revela-se sempre determinada, mas também, paradoxalmente, inquieta. Em suas obras há Pintura e Desenho, mas os limites de suas localizações no mundo apresentam-se cada vez mais porosos.
“Muito mais do que provar as possíveis impurezas da geometria, esses artistas nos convocam a pensar os confrontos da produção artística contemporânea nestes tempos que vivemos, nitidamente orientados pelo controle e funcionalidade. Aqui vale o descontrole e a recorrência de romper os limites da forma e fazê-la aparecer em outras e novas composições derivadas do risco e da incerteza, nos aproximando mais do caos”, conclui Eduardo de Jesus.
A exposição Geometria Impura – com entrada franca e classificação indicativa livre – é ação do Projeto Exposição Desvios, patrocinado pela Lei Rouanet.
Isaura Pena apresenta uma série dos seis, são seis desenhos de 100 x 145 cm que, colocados lado a lado, propõem um diálogo horizontal com a paisagem, fazendo uma alusão às superfícies das lagoas. São aguadas de nanquim sobre papel em treze diluições diferentes: do quase branco ao preto profundo. O primeiro desenho, uma camada de aguada de nanquim. O segundo, duas camadas de nanquim. O terceiro, três camadas. O quarto, três mais dois, cinco camadas. O quinto, três mais cinco, oito. O sexto desenho, cinco mais oito: treze camadas de aguadas de nanquim. Como na Seqüência de Fibonacci que consiste em uma série de números, que definindo os dois primeiros números como sendo 0 e 1, se obtem os seguintes através da soma dos seus dois antecessores. Portanto: 0, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233,.... A primeira camada foi aplicada em todos os seis papéis preparados. A segunda, em todos os outros cinco, ou seja, no segundo, no terceiro, no quarto, no quinto e no sexto. A terceira em todos os quatros restantes; a quarta em todos os outros três; a quinta nos dois últimos. E a sexta, a sétima, a oitava, a nona, a décima, a décima primeira, a décima segunda e a décima terceira só no sexto papel... Esse trabalho foi apresentado no Museu da Pampulha em 2007.