A instalação Rapunzel de Flávia Bertinato é apresentada no CCBB Rio de Janeiro contemplada pelo Prêmio CCBB Contemporâneo.
Diferentemente do conto de fadas dos irmãos Grimm, as tranças da personagem não a levam a viver um história romântica. As extensas tranças da Rapunzel de Bertinato estão fadadas à contenção.
A instalação é composta por sete carretéis de ferro, revestidos por folhas de madeira, de dimensões diversas, com roldanas e manivelas, um preso à parede e os demais, distribuídos pelo espaço expositivo. Os carretéis carregam metros e metros de tranças, feitas manualmente com 700 quilos de fibra de sisal natural, tendo tesouras cirúrgicas douradas emaranhadas na trama.
As manivelas e as tesouras ao alcance das mãos sugerem ao visitante manipular esses elementos. Mas ele não conseguirá devido ao peso do material e a imobilidade das tesouras, presas ao trançado. Alguns carretéis estão conectados uns aos outros por tranças, o que também impede a circulação em uma parte da sala. A participação do público não se dá pelo interatividade física, mas pela imaginativa. A inacessibilidade ao contato sujeito-obra é parte da proposta da artista.
Flávia Bertinato avalia que Rapunzel absorve uma característica seminal da produção dos anos 1960, que é a ambivalência de forças opostas: contenção x expansão, limitação x liberdade, revelação x ocultação e exposição x segredo. Essa instalação lida ainda, segundo a artista, com o legado da vanguarda dos anos 1960/70, que é a participação do espectador. Nesse caso, não é a ação física, que precisa ser sublimada, mas a interação mental, a partir da qual o visitante atribui significados simbólicos e socioculturais à carga temática do conto de fadas trazida para a contemporaneidade.
A curadora e historiadora da arte Taisa Palhares diz no texto de apresentação de Rapunzel: “Bertinato acessa o imaginário popular para nos colocar diante do senso comum em relação às ideias de amor, sedução e feminilidade, naturalmente com ironia e ambiguidade.”
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