Desconstruir e reconstruir o que registro é parte importante do meu trabalho. As fotografias originais são a base para novas séries. Cada projeto tem uma abordagem conceitual própria e as imagens se tornam camadas da construção formal e do sentido final. O resultado pode se tornar mais ou menos realista, jogar com sequências de tempo, criar formas tridimensionais e usar vários pontos de vista simultâneos.
Quando inicio um projeto, a inspiração pode vir de diferentes fontes. No trabalho para Usina de Arte veio do convivo, desde minha infância, com azulejos enquanto uma forte expressão de arte. Na minha casa, logo na entrada, havia uma parede com azulejos modernistas. E toda vez que viajava para o Nordeste visitava casas de parentes, igrejas e praças onde via azulejos de todos os tipos. Sempre me encantou ver símbolos, desenhos e histórias nesse formato.
Como fotografia atualmente comporta impressões sobre vários suportes, o azulejo é uma das mídias que venho explorando em diversas séries, numa apropriação da antiga arte de azulejaria portuguesa. Arte esta que tanto influenciou a cultura brasileira desde o período colonial, passando pelo barroco, até a modernidade.
Foi dando continuidade à essa pesquisa visual com azulejos que nasceu “Conversadeiras”, projeto em que proponho encontros entre expressões contemporâneas e um suporte tradicional. Recebi o convite do curador Marc Pottier para integrar o acervo da Usina de Arte como um rico desafio. Parti então da vontade de continuar a utilizar os azulejos como suporte e propus uma ocupação que é, ao mesmo tempo, conceitual e utilitária, ao construir bancos escultóricos revestidos de azulejos impressos.
O trabalho é composto de um corpo de imagens que vão desde referências da arte popular local, até imagens históricas, mapas e fotografias, imagens da cultura da cana de açúcar, compondo uma narrativa visual da história da região da Usina e da cidade do Recife. Desta forma, “Conversadeiras” se constitui como uma fusão de camadas materiais, semânticas e históricas.
Os bancos foram pensados afim de integrar a paisagem da Usina de Arte, criando praças. Esse mobiliário serve enquanto espaços de descanso e contemplação da paisagem. Ao mesmo tempo, ilustram histórias e diálogos com a própria Usina, em seu contexto e simbologia histórica.
– Claudia Jaguaribe