Pedra Papel Tesoura e Pó: Liliane Dardot e Marcelo Silveira
Pedra, papel, tesoura e pó, exposição de Liliane Dardot e Marcelo Silveira, reúne um conjunto de gravuras interferidas realizadas por ambos a partir de tiragens de litografias originalmente realizadas pela artista mineira em Olinda na Oficina Guaianases de Gravura no período de 1979 a 1989 quando, naquele espaço de colaboração coletiva, os dois iniciam uma longeva amizade. Aquelas obras, que tocavam em diversos assuntos, que iam do difícil ambiente político do país, passando pela rotina do cotidiano, a paisagem, são revisitadas agora por ambos, a um só tempo reinventando-as e transformando-as em novos trabalhos em coautoria, nos quais lançam mão de colagens, retoques em cor e outras ações.
As obras resultantes remetem não somente as trajetórias de cada um: a releitura empreendida por ambos dialoga com as sobreposições em veladura dos desenhos e pinturas de Liliane, assim como com os acúmulos e apropriações que dão a tônica dos trabalhos de Marcelo. Nesse sentido, um dos pontos mais ricos da série aqui apresentada é o fato de ao mesmo tempo em que registram a coautoria, preservam não menos aspectos de suas respectivas obras individuais. Ou seja, vemos juntos os gestos de Liliane, de Marcelo e de Marcelo e Liliane, como se a coautoria se fizesse um terceiro autor – algo mais do que um trabalho de Liliane com Marcelo e sim, repitamos, essa outra figura única que é Liliane-Marcelo. Essa peculiaridade autoral se reflete nas próprias obras, seja porque transformam uma imagem originalmente planejada para ser feita em série (como é da natureza da gravura) em um trabalho único, seja porque isso nasce de uma reinterpretação de etapas oriundas da própria técnica litográfica, como a sobreposição de impressões e efeitos aquarelados, que criam a curiosa situação em que a existência de diferentes versões de uma mesma matriz suscitem e reforcem a ambiguidade entre original e cópia desde sempre inerente a linguagem gráfica.