Bestiário do jardim oculto: Raquel Schembri
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel38 x 50 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel50 x 38 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel50 x 38 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel38 x 50 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel38 x 50 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel38 x 50 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel38 x 50 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel50 x 38 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica e carvão sobre papel178,5 x 162 cm
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel66 x 52 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel66 x 52 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel66 x 52 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel66 x 52 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel66 x 52 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel25,5 x 19,5 cm (com moldura)
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Raquel SchembriAcrílica sobre papel25,5 x 19,5 cm (com moldura)
Imanentes ou o que permanece
Podemos acreditar que o contexto molda os artistas da mesma maneira que os artistas transformam a percepção dos contextos. Seria correto pensar que essa é uma das dialéticas culturais mais interessantes para se debruçar filosoficamente. Raquel Schembri está no coração de uma geração de artistas que está aí, construindo e sendo moldada pelo imaginário atual. Contudo, ela não está mais entre nós; sua trajetória foi interrompida subitamente por um acidente. É fascinante o mistério das artes, em que um trabalho ganha autonomia e continua maturando, influenciando o contexto e, com isso, dialogando com sua geração. Hoje, oito anos após sua partida, seu trabalho se reconfigura e segue ganhando relevância, sensibilizando o mundo e criando novos imaginários.
Raquel explorou, de maneira muito singular, como performar a construção de imagens. Em seu trabalho, ela desenvolveu uma sensibilidade complexa, capaz de apresentar imagens extremamente originais de forma direta. Seu traço é único e reflete profundamente sua personalidade aguçada e conectada à sensibilidade do contexto. Nunca foi uma artista exclusivamente de ateliê; apesar de trabalhar diariamente em seu espaço criativo, era uma artista das interações sociais. Com forte influência dos situacionistas, criou uma maneira muito particular de dar uma visualidade extremamente potente como resposta ao estar no mundo.
Para ela, performar era o ponto de partida do olhar. Artesã da escuta e artista afiada das imagens, deixou-nos um legado emocionante que cresce e pulsa à medida que o mundo se complexifica com imagens cada vez mais vazias, enquanto olhares se voltam atentos ao mergulho vertical, possível apenas nas artes visuais.
Nesta pequena mostra, trazemos ao público uma série de trabalhos em acrílico sobre papel que habitam um “entre”: entre a representação e o gesto, o olho e o olhar, o material e o espiritual. Nesta série apresentada, há, fundamentalmente, uma dialética escópica cuja força reside no que precede o gesto e na própria expressão do gesto sobre a superfície. Nesse sentido, a obra ousa amalgamar o abismo do que aparentemente habita o que estamos chamando aqui de “entre”. Podemos dizer que os trabalhos escolhidos tratam, efetivamente, de uma espécie de bestiário de aparições.
A artista costumava dizer que essa série era o pulsar brilhante da vida secreta ao nosso redor. Imagino que seja por isso que ela se lançou em cores brilhantes, até um pouco inusitadas, para construir uma misteriosa fauna e flora que mesclam a fantasia de um olhar em busca de naturalismo e a dança de um corpo que pinta sobre a superfície com a força de uma entrega ritualizada.
Nesta mostra, temos o privilégio de apreciar uma obra pertencente à última série da artista. Nesta fase, ela explora grandes dimensões em papel, utilizando uma rica diversidade de materiais, como carvão, acrílico, grafite e bastão de óleo. A série revela, de forma contundente, a potência de seu gesto fluido e dançante, além de destacar sua extraordinária habilidade em materializar, com intensidade e sensibilidade, sua entrega total à prática artística.
Podemos afirmar que suas imagens exercem constante influência sobre seus pares e colegas artistas. Sua força borbulha, reafirmando que, em um mundo repleto de imagens, existem aquelas que são imagens de exceção: capazes de forçar as bordas do que acreditamos ser possível ver, levando-nos a enxergar algo que, misteriosamente, estava oculto, mesmo estando nitidamente diante dos nossos olhos.
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Raquel Schembri faleceu no dia 27 de junho de 2016, durante o parto de sua filha, Marta. Ao longo de sua carreira, realizou residências artísticas na Inglaterra, Alemanha, Sérvia, Brasil e Coreia do Sul. Participou de exposições individuais e coletivas em diferentes países, com destaque para a Alemanha e a Coreia do Sul. Seu legado é vasto e continua a se reconfigurar, mostrando-se mais atual do que nunca.