Invento o Mar: Laura Belém
A exposição "Invento o mar" ocupa o primeiro andar da Albuquerque Contemporânea e apresenta 28 trabalhos inéditos de Laura Belém, sendo a maior exposição da artista na Galeria até então. Com trajetória de 24 anos e uma obra caracterizada pela experimentação e por uma produção multidisciplinar, Laura traz trabalhos nos campos da escultura, do desenho, da gravura tipográfica, e da fotografia, estendendo-se até a poesia visual e a arte sonora, com texto crítico de Bianca Dias.
O núcleo central da exposição gira em torno da relação com a natureza, a terra e a ecologia, sublinhando a interconexão entre nossos corpos e o meio-ambiente, por meio de um viés poético e que não intenciona dar respostas rápidas às complexas questões ambientais que o planeta vem passando. As obras convidam a um olhar para o microcosmo dentro do macrocosmo e a uma reflexão sobre a marca do corpo social em relação à natureza na contemporaneidade. O diálogo com a geografia e a paisagem do entorno faz-se presente por meio da ocupação espacial e da escolha dos materiais utilizados para as obras (minério de ferro, argila, folhas, sementes, pedras, madeira, etc) que ao mesmo tempo engendram conceitos mais amplos.
O título da exposição "Invento o mar" foi retirado da canção "Cais", uma parceria deRonaldo Bastos com Milton Nascimento, do álbum Clube da Esquina, de 1972. Para Laura, essa canção de grande carga poética coloca lado a lado a ideia de solitude à de reinvenção, sonho e expansão; "eu queria ser feliz / invento o mar / invento em mim o sonhador". A canção termina com uma melodia que parece dialogar com a topografia irregular de Minas, de planos altos e baixos, culminando com uma certa dramaticidade rumo ao desconhecido ou a algo não assertivo. A própria exposição pode ser compreendida como um campo de invenções, com a projeção de subjetividades, metáforas, e uma narrativa aberta e não linear.
Na contramão de um tempo de urgências e de uma excessiva redução da experiência humana ao mundo digital, a exposição convida à presença, à percepção de um tempo mais dilatado e daquilo que se situa entre uma coisa e outra - a marca, a impressão, o rastro, a matéria tátil que se diluiu em nossos cotidianos mediados pela mídia, e também do imanente em meio ao transitório; a ideia de que a mesma Consciência a tudo permeia e de que há uma essência divina comum a todos os corpos e a toda matéria.
"Invento o mar" convida a um mergulho nessas subjetividades, à reinvenção da percepção e à construção de novas relações poéticas e sociais com a natureza, o meio-ambiente e o Ser.