Mero Espaço: Waltercio Caldas

Qualquer exposição de Waltercio Caldas (1946) traz uma expectativa nova. No caso de Mero Espaço, não é diferente, embora seu trabalho sempre se renove ao longo dos anos. A exposição, que será inaugurada na Albuquerque Contemporânea Galeria de Arte, no dia 28 de maio, às 18h, propõe ao expectador a construção de uma narrativa a partir do diálogo entre cada uma das obras em um determinado espaço.

Nessa nova montagem, o artista carioca abole as noções de desenho, pintura, escultura e objeto. Apesar de pinturas e desenhos serem algo novo em sua trajetória, para ele, todos os trabalhos têm caráter tridimensional e convidam o expectador a estabelecer as relações entre os objetos, sejam eles realizados sobre tela, papel ou em estruturas de aço, vidro, madeira, espelhos e fios de algodão.

“Na verdade, não sou pintor, como não sou escultor, nem sou desenhista, todas essas categorias têm uma certa dificuldade de grudar no meu trabalho, exatamente porque o trabalho não trata de cada uma delas, mas da relação entre elas e o que é possível fazer tratando da arte”, afirma o artista. “Este é o meu foco.”

Nesse sentido, o conjunto ganha uma dimensão temporal própria, abandonando a ideia de “produção mais recente do artista” para estabelecer um contínuo de seu trabalho ao longo de mais de cinco décadas de atividade. Para o artista, a exposição não é o fim do trabalho, mas característica fundamental da própria obra.

Waltercio explica sua proposta: “Construo, na realidade, uma relação entre as partes que é tão importante para a exposição quanto as partes em si. Isso é: tenho uma diversidade de materiais que vão de desenhos, de desenhos com relevos, de objetos que vão pra escultura, para pinturas. E a relação estre esses vários procedimentos é um aspecto importante para a visitação das pessoas.”

Como sempre em seu trabalho, as noções de tempo e espaço são exploradas com linguagem e rigor formal próprios. Diversas obras, diante da perspectiva tridimensional, exaltam a temporalidade, sugerindo movimentos e deslocamentos no espaço e provocando tensões, outra marca fundamental de seu percurso artístico.

Waltercio destaca ainda a necessidade da presença diante dos trabalhos, para que o expectador possa absorver a construção da narrativa proposta, fato que, em Mero Espaço está bastante enfatizado. “A exposição só acontece se você estiver fisicamente, ela não se reproduz, ela não se transforma em imagem de vídeo ou celular. Ela propõe uma relação física das pessoas com os objetos que elas vão ver”, aponta o artista.

Neste sentido, o corpo diante das obras, em um construto narrativo específico, traz novamente a ideia de tempo no espaço, uma “presentificação” da experiência artística sem mediações. Com essa proposição, Waltercio Caldas, mais uma vez, questiona o próprio fazer artístico e convida o expectador a se indagar sobre seu estar no mundo.