Mata seca, Mata suja: Louise Ganz
A exposição Mata Seca, Mata Suja apresenta uma série de pinturas recentes realizadas a partir de caminhadas e imersões em regiões do cerrado mineiro, mais especificamente em matas de galeria, campos sujos e campos rupestres. Com trabalhos pioneiros em arte pública e arte relacional em Belo Horizonte, como Hotel Bragança (2003), Lotes Vagos (2004/2007), Banquetes (2007) e Museu Campestre (2012), onde reflexões sobre cidade, natureza, política e participação foram fundamentais, Louise retoma, em 2015, a pintura. Desde então vem trabalhando sobre as questões próprias da pintura, com um procedimento de construção pelo acúmulo de camadas, apagamentos, veladuras e campos de cor.
Nesta série, paisagens são construídas entre a representação e a imaginação, onde a imagem vai se fazendo numa espécie de expedição pela pintura, assim como pelo território. Algumas anotações – pinturas sobre papel – são realizadas in locu, durante as caminhadas, e pinturas maiores são realizadas em seu ateliê, localizado na região de Casa Branca, em Minas Gerais, região em disputa entre natureza e mineradoras. Um emaranhado de rochas, plantas, águas, capins e neblinas surge pela sobreposição de manchas de tinta e pelas pinceladas vigorosas.
O título Mata Seca, Mata Suja aponta para a nomeação tanto de um tipo de cerrado - de matas secas -, quanto para a ideia errônea e historicamente produzida por discursos hegemônicos e colonialistas de que o cerrado é terra suja, passível de ser explorado e destruído. Mas ao contrário, é a savana mais biodiversa do planeta, tem mais de 12 mil plantas catalogadas, abriga muitos povos originários e territórios quilombolas que preservam e usam das plantas para fins alimentícios, medicinais e utilitários, além de serem territórios de reserva de água.
A mostra reúne trabalhos inéditos, realizados a partir de 2021, de grande dimensão, entre 1,60 a 5 metros, e alguns pequenos formatos sobre papel, em que é possível ver o interesse na pintura, na terra, na paisagem e nos modos de vida.